segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Doses Homeopáticas #27


Fiz às pazes com À PROVA DE MORTE, único dos filmes de Quentin Tarantino que me desagradava um pouco. Tá certo que não dá para esperar a qualidade da maioria dos trabalhos do cineasta, mas, caramba, dá para se divertir um bocado com aquelas mulheres em trajes sumários falando sobre sexo e drogas, e com a homenagem de Tarantino aos grandes filmes americanos dos anos 1970 e 1980 protagonizados por carros. A violência é gráfica – pernas sendo arrancadas, pneus esmagando cabeças – e está ali o fetiche pelo automóvel. As perseguições são muito boas, sobretudo aquela do final, que inverte o jogo do dublê maluco que caça mulheres, pois ele passa a ser vítima. Sequência, aliás, filmada sem dever nada aos cânones de Tarantino.


O PODEROSO CHEFÃO: PARTE II é uma obra-prima. Aliás, a trilogia toda – que na minha concepção forma um grande filme – figura entre o que de melhor o cinema já produziu como expressão artística. A tela grande apenas reitera e amplifica essa sensação, de estarmos diante de algo quase irrepreensível. Vemos a chegada de Vito Corleone à América e sua ascensão ao topo da máfia ítalo-americana, ao passo em que acompanhamos seu filho Michael tendo de lidar com a liderança herdada, com um destino que ele em princípio não queria para si. Coppola mostra essas duas linhas temporais para evidenciar as mudanças que não permitem a Michael ser um gângster como seu pai, à moda antiga, com relações baseadas em confiança e trocas de favores, o que acarreta uma derrocada trágica e inevitável do clã.    


Embora o crime esteja já no título UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN a gente passa um bom tempo duvidando da sua ocorrência, pensando se tudo não é apenas uma invenção da cabeça desocupada da personagem de Diane Keaton. A razão parece estar do lado do seu marido, vivido por Woody Allen, ele que acha (e nos leva a achar) absurda a ideia da vizinha recém-falecida, oficialmente em virtude de um ataque do coração, ter sido na verdade assassinada pelo marido que coleciona selos. A investigação do crime está ali meio como desculpa, pois o que realmente importa é a crise no casamento, o amigo que surge como ameaça, a artista que flerta com seu editor casado. Assim, Woody Allen homenageia os filmes de detetive, essencialmente falando sobre relacionamentos, com o humor e a perspicácia de sempre.

Um comentário:

  1. Já falei muitas vezes, mas não canso: essa seção do blog é ótima, uma de minhas prediletas.
    Grande abraço.

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