Fiz às pazes com À PROVA DE
MORTE, único dos filmes de Quentin Tarantino que me desagradava um pouco. Tá
certo que não dá para esperar a qualidade da maioria dos trabalhos do cineasta,
mas, caramba, dá para se divertir um bocado com aquelas mulheres em trajes
sumários falando sobre sexo e drogas, e com a homenagem de Tarantino aos
grandes filmes americanos dos anos 1970 e 1980 protagonizados por carros. A
violência é gráfica – pernas sendo arrancadas, pneus esmagando cabeças – e está
ali o fetiche pelo automóvel. As perseguições são muito boas, sobretudo aquela
do final, que inverte o jogo do dublê maluco que caça mulheres, pois ele passa
a ser vítima. Sequência, aliás, filmada sem dever nada aos cânones de
Tarantino.
O PODEROSO CHEFÃO: PARTE II é uma
obra-prima. Aliás, a trilogia toda – que na minha concepção forma um grande
filme – figura entre o que de melhor o cinema já produziu como expressão
artística. A tela grande apenas reitera e amplifica essa sensação, de estarmos
diante de algo quase irrepreensível. Vemos a chegada de Vito Corleone à América
e sua ascensão ao topo da máfia ítalo-americana, ao passo em que acompanhamos
seu filho Michael tendo de lidar com a liderança herdada, com um destino que
ele em princípio não queria para si. Coppola mostra essas duas linhas temporais
para evidenciar as mudanças que não permitem a Michael ser um gângster como seu
pai, à moda antiga, com relações baseadas em confiança e trocas de favores, o
que acarreta uma derrocada trágica e inevitável do clã.
Embora o crime esteja já no
título UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN a gente passa um bom tempo
duvidando da sua ocorrência, pensando se tudo não é apenas uma invenção da
cabeça desocupada da personagem de Diane Keaton. A razão parece estar do lado
do seu marido, vivido por Woody Allen, ele que acha (e nos leva a achar)
absurda a ideia da vizinha recém-falecida, oficialmente em virtude de um ataque
do coração, ter sido na verdade assassinada pelo marido que coleciona selos. A
investigação do crime está ali meio como desculpa, pois o que realmente importa
é a crise no casamento, o amigo que surge como ameaça, a artista que flerta com
seu editor casado. Assim, Woody Allen homenageia os filmes de detetive, essencialmente
falando sobre relacionamentos, com o humor e a perspicácia de sempre.
Já falei muitas vezes, mas não canso: essa seção do blog é ótima, uma de minhas prediletas.
ResponderExcluirGrande abraço.