domingo, 1 de novembro de 2015

Doses Homeopáticas #52

O lirismo é o atributo principal da linguagem de O ÚLTIMO POEMA DO RINOCERONTE. A triste história do casal separado por anos, em virtude de uma vingança, tendo como pano de fundo a revolução islâmica, é contada com um pé na realidade e o outro no simbolismo. O homem sai quase catatônico da cadeia depois de trinta anos encarcerado. Assim como ele, os demais personagens são reduzidos ao mínimo de expressão, o que incomoda de certo ponto em diante. Tudo é enfraquecido por esse tom monocórdico, quebrado vez ou outra pela inserção de algum elemento que faz emergir a dor de maneira poética. As coisas vão se acontecendo sem muito a acrescentar ao prólogo. A fraqueza diante da impossibilidade de apagar a angústia da memória, assim como a constatação da perenidade das feridas que não deixarão de sangrar, são instâncias basilares à trama. Contudo, uma sensação de vazio permeia boa parte do que acontece no filme, não necessariamente a do tipo existencial, embora as pessoas nele se comportem como autômatos, mas relativa à falta de expedientes menos edulcorados. A pretensa poesia, contrário ao intento, acaba embotando as coisas, reduzindo os danos da realidade em prol da evocação de uma beleza paradoxal.   


O QUARTETO FANTÁSTICO deixa a desejar em alguns momentos, sem dúvida. Contudo, está longe de ser ruim como andam dizendo por aí. Vou além, é muito interessante. O garoto determinado desde cedo a ser cientista, o amigo fiel que assume o sonho alheio como seu, a menina pragmática escondida atrás dos padrões, o rebelde que contesta o pai para obter atenção, são todos personagens bem construídos, uns mais outros menos, é verdade, mas, ainda assim, com um nível de maturidade estranho aos filmes de heróis. Até eles se confrontarem com o Doutor Destino, temos um drama com ares de ficção científica, uma narrativa consistente que, embora faça concessões, carrega a singular visão do diretor. Isso claramente é descartado quando a ação toma conta, quando evocado um heroísmo mais óbvio. A partir daí as coisas se tornam um tanto quanto banais e os conflitos se resolvem facilmente. Esses dois momentos distintos podem ser explicados pelas divergências de produção que vieram a público, ou talvez nem tanto. Fato é que, mesmo derrapando no fim, a realização de Josh Trank merece bem mais reconhecimento do que vem tendo, pois não é mau cinema, muito pelo contrário.



A primeira cena do novo MISSÃO IMPOSSÍVEL dá uma ideia do que teremos pela frente. O espetacular e o improvável costuram o filme de Christopher McQuarrie, sobretudo no que diz respeito às cenas de ação. Tiroteios, perseguições, explosões, enfim, tudo aquilo que acontece quando Ethan Hunt passa por um lugar está aqui. De James Bond ele herdou a necessidade das constantes viagens e a companhia de mulheres tão fatais quanto belas. Não só os combates chamam a atenção neste quinto capítulo, mas também o roteiro, as intrigas geopolíticas muito bem urdidas numa trama que coloca a IMF em apuros duplos, pois caçada por uma organização secreta e oficialmente extinta pelo governo norte-americano. É dado o devido valor ao trabalho em conjunto, à importância de cada colega para que tudo corra bem no fim das contas. Tom Cruise, famoso por dispensar dublês e fazer ele próprio as cenas perigosas, parece ter encontrado um time (de atores e produtores, já que os diretores se sucedem) que pode levar Ethan Hunt adiante, mantendo viva sua franquia, espera-se, com filmes tão bons quanto este. 

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