quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

100 minutos, eis o tempo

Olá, caro amigo-leitor!
Hoje à tarde, ainda desfrutando de minhas férias, que findam com esta semana, assisti a um clássico do cinema: Laranja Mecânica. Envergonho-me por ser tardia minha experiência com tal filme de Stanley Kubrick, mas, jubiloso por enfim o ter conferido, com a certeza, em cada quadro, de presenciar uma das maiores realizações cinematográficas. Bem, isso não se configura como novidade para os que apreciam a sétima arte, visto a quantidade de indivíduos que o tem em alta estima. Porém, apesar do que construí nas linhas anteriores a esta, o texto aqui presente não objetiva comentar de maneira mais profunda o filme dos anos 70, já famigerado o bastante. Tenho por meta instigar, nem que ao menos poucos dos poucos que nos leem, a conferir, dentro da possibilidade pessoal vigente, um filme mexicano datado de 2004, Temporada de Patos.
Quem me conhece e sabe, por esse motivo, da preguiça que comanda boa parte de minhas ações, detém por conseqüência a informação do quanto gosto de filmes pequenos. Acredito, semelhante à Hitchcock, que uma história pode muito bem ser contada dentro de mais ou menos 100 minutos, ou seja, 1 hora e 40 minutos. Temporada de Patos, em seus 85 minutos, desenvolve um domingo em que dois amigos adolescentes, Flama e Moko, passam seu dia no apartamento do primeiro. No início, o interesse é despertado perante a habilidade com que o diretor e roteirista Fernando Eimbcke aborda o tédio, situações essas em que a identificação é inexorável. Contudo, as incursões de mais duas personas no convívio momentâneo da dupla, Rita, a vizinha - também adolescente, que necessita do forno emprestado e o entregador de pizzas Ulises, o qual podemos especular uma idade girando em torno dos 30, 35 anos, injetam à projeção inúmeros assuntos e níveis de profundidade até então negligenciados.
A obra aborda diversos assuntos, dentre eles tédio, sexualidade (descoberta e conflitos) e perspectiva de futuro. O modo de filmar, que nos coloca em situação de espiões, cúmplices do que ocorre na tela, a montagem que auxilia na cadência do ritmo e a exposição de belas cenas garantem ascenção em sua qualidade.
O personagem de Ulises é muito bem elaborado e representa as pessoas que não conseguiram percorrer um caminho de rosas esboçado na juventude, então qualquer oportunidade de êxito em algum pequeno sonho ainda remanescente da época supracitada, é agarrada, sem levar em conta os perigos que dela podem derivar. Vem à minha mente pessoas sentadas em uma mesa de jogo, onde alguma, em um determinado ponto, é impelida à apostar o que ainda a separa da falência completa, em uma única e arriscada jogada.
Enfim, aqui fica a dica de um grande filme, ovacionado por uns e esquecido pela maioria.



Abraços, Drugs.



2 comentários:

  1. Belíssimo texto Rafa.
    Em relação a "Laranja Mecânica", é como tu bem disse, um clássico, um filme que, mesmo decorridos mais de trinta anos de sua feitura, ainda conserva uma atualidade, seja nos temas abordados e/ou principalmente na forma como Kubrick aborda este temas.

    Sobre "Temporada de Patos" foi realmente uma gratíssima supresa. Tínhamos poucas referências, e o que vimos (uso o plural pois compartilhei contigo da sessão e do posterior entusiasmo) foi um excelente filme, possuidor de uma narrativa que, pouco a pouco, se mostra mais profunda, dotada de múltiplas e relevantes camadas. Belíssima esta forma de narrar de Eimbcke.

    Abraçossss

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  2. Olá Rafa!

    Sobre "Laranja Mecânica", é mais que um grande filme, sem dúvida! Meu DVD espera o momento em que poderá reproduzir novamente este clássico, para apreciação deste que escreve e anseia a sessão de tão fantástico filme.

    Sobre "Temporada de Patos", posso dizer apenas o seguinte: seu texto e o pequeno trailer me instigaram, e muito, em conferir tal filme o quanto antes!

    Grande abraço.

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