CULPADA POR ROMANCE
Título Original: Koi no tsumi
De: Sion Sono
Japão, 2011
Nesta reta final do Festival,
tenho me surpreendido com os filmes que tenho visto. "Culpada por Romance",
por exemplo, é uma pérola entre centenas
de títulos selecionados, de países, gêneros e classificações diferentes. Difícil
comentar sobre o filme aqui. Por vários motivos, mas, na minha opinião, mais
pelo fato de não se tratar de pertencente a um gênero específico, por mesclar
estilos e até apresentar uma nova roupagem de roteiro e direção.
Izumi é casada com um escritor
famoso que se interessa por romances. Ela o admira, o idolatra e assume o papel
de mulher subserviente sem olhar para os lados. Ele principalmente se mostra
sistemático e exige o mesmo da mulher. Entediada com essa dinâmica monótona e
repressora, Izumi decide trabalhar promovendo produtos alimentícios em
mercados. Certa vez, uma mulher se aproxima dela e oferece uma chance numa
agência de modelos. Ela topa, mas quando chega lá percebe que a demanda é de
outra ordem, e que a "arte feminina" está mais para arte pornô. De
qualquer modo, Izumi se sente atraída por aquele mundo, onde os homens parecem
desejá-la e as mulheres admiram sua beleza, e não consegue sair, mesmo entrando
em um conflito interno, onde se culpa por adultério, mas por outro lado vai se
tornando mais independente, segura e desejada, inclusive por seu marido, que em
outros tempos se mostrara frívolo e racional.
Nestas andanças, a moça
conhece uma mulher, cuja identidade primeira revelada é de uma garota de
programa, que por sua vez passa a ser sua mentora e a convence também de se
prostituir. Concomitante ao drama, o filme traz uma trama policial muito
interessante, no momento em que é encontrado no bairro do motel que Izumi
frequenta, um cadáver. À partir daí, a investigação se mistura pouco a pouco
com o problema existencial vivido por Izumi. Sion Sono injeta altas doses de
erotismo, suspense, horror e poucas de humor, mas que se equilibram muito bem
tornando o filme consistente e bem amarrado.
Trash, B, neo-noir, fantástico, thriller, todos estes gêneros poderiam ser associados à narrativa frenética e
autoral (põe autoral nisso!) de "Culpada por Romance". Com mais de
140 minutos, o filme nos enreda pelo ritmo e encanta pelos diversos elementos
simbólicos, que compõe um contexto abstrato, mas com base; Poético, reflexivo e
atual.
O diretor, que também é o
roteirista, transita nos universos que vão da filosofia à literatura e, por
isso, cita em vários momentos Kafka, psicologia, onde ele explica o papel do
feminino na cultura japonesa na década de 90 em diante. Com um desfecho
abstrato, poético, nada objetivo "Culpada por Romance" mantém até o
fim seu status de mistério, existencialismo e lirismo. Eu particularmente
adorei!! Sobretudo pela singularidade do roteiro. Dica para quem for assistir: fique
até o último minuto na cadeira, mesmo depois dos créditos...quem assistir,
saberá do que estou falando.
Olá Carol,
ResponderExcluirSeus últimos posts têm aguçado minha curiosidade quanto a estes filmes que não ganham muito destaque nem mesmo da mídia especializada e mais crítica que cobre o Festival de Cinema do Rio.
Embora o título nacional seja (como de costume) pouco inspirado, gostei da descrição que faz acerca desta mistura de gêneros, aliás desenvolvida de maneira bastante orgânica pelo cinema oriental contemporâneo. Há algo, nem que seja pela referência, de "A Bela da Tarde", ou é só impressão minha?
beijos
Não é impressão não Marcelo. Tem tudo a ver, mas com uma estética renovada!Injeções de "uma bela da tarde"psicodélica? rs Talvez!
ResponderExcluirEu adoreii!!
bjs
Olá, Carol!
ResponderExcluirNossa, ao ler os primeiros parágrafos de seu texto lembrei de "A Bela da Tarde", do mestre espanhol Luis Buñuel.
É, nossa esperança cai sobre a Sala de Cinema Ulysses Geremia. O que você acha, Kon?
Beijosssss