quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Festival do Rio 2011: Culpada por Romance


CULPADA POR ROMANCE
Título Original: Koi no tsumi
De: Sion Sono
Japão, 2011

Nesta reta final do Festival, tenho me surpreendido com os filmes que tenho visto. "Culpada por Romance", por exemplo, é uma  pérola entre centenas de títulos selecionados, de países, gêneros e classificações diferentes. Difícil comentar sobre o filme aqui. Por vários motivos, mas, na minha opinião, mais pelo fato de não se tratar de pertencente a um gênero específico, por mesclar estilos e até apresentar uma nova roupagem de roteiro e direção.

Izumi é casada com um escritor famoso que se interessa por romances. Ela o admira, o idolatra e assume o papel de mulher subserviente sem olhar para os lados. Ele principalmente se mostra sistemático e exige o mesmo da mulher. Entediada com essa dinâmica monótona e repressora, Izumi decide trabalhar promovendo produtos alimentícios em mercados. Certa vez, uma mulher se aproxima dela e oferece uma chance numa agência de modelos. Ela topa, mas quando chega lá percebe que a demanda é de outra ordem, e que a "arte feminina" está mais para arte pornô. De qualquer modo, Izumi se sente atraída por aquele mundo, onde os homens parecem desejá-la e as mulheres admiram sua beleza, e não consegue sair, mesmo entrando em um conflito interno, onde se culpa por adultério, mas por outro lado vai se tornando mais independente, segura e desejada, inclusive por seu marido, que em outros tempos se mostrara frívolo e racional.

Nestas andanças, a moça conhece uma mulher, cuja identidade primeira revelada é de uma garota de programa, que por sua vez passa a ser sua mentora e a convence também de se prostituir. Concomitante ao drama, o filme traz uma trama policial muito interessante, no momento em que é encontrado no bairro do motel que Izumi frequenta, um cadáver. À partir daí, a investigação se mistura pouco a pouco com o problema existencial vivido por Izumi. Sion Sono injeta altas doses de erotismo, suspense, horror e poucas de humor, mas que se equilibram muito bem tornando o filme consistente e bem amarrado.

Trash, B, neo-noir, fantástico, thriller, todos estes gêneros poderiam ser associados à narrativa frenética e autoral (põe autoral nisso!) de "Culpada por Romance". Com mais de 140 minutos, o filme nos enreda pelo ritmo e encanta pelos diversos elementos simbólicos, que compõe um contexto abstrato, mas com base; Poético, reflexivo e atual.

O diretor, que também é o roteirista, transita nos universos que vão da filosofia à literatura e, por isso, cita em vários momentos Kafka, psicologia, onde ele explica o papel do feminino na cultura japonesa na década de 90 em diante. Com um desfecho abstrato, poético, nada objetivo "Culpada por Romance" mantém até o fim seu status de mistério, existencialismo e lirismo. Eu particularmente adorei!! Sobretudo pela singularidade do roteiro. Dica para quem for assistir: fique até o último minuto na cadeira, mesmo depois dos créditos...quem assistir, saberá do que estou falando.


3 comentários:

  1. Olá Carol,

    Seus últimos posts têm aguçado minha curiosidade quanto a estes filmes que não ganham muito destaque nem mesmo da mídia especializada e mais crítica que cobre o Festival de Cinema do Rio.

    Embora o título nacional seja (como de costume) pouco inspirado, gostei da descrição que faz acerca desta mistura de gêneros, aliás desenvolvida de maneira bastante orgânica pelo cinema oriental contemporâneo. Há algo, nem que seja pela referência, de "A Bela da Tarde", ou é só impressão minha?

    beijos

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  2. Não é impressão não Marcelo. Tem tudo a ver, mas com uma estética renovada!Injeções de "uma bela da tarde"psicodélica? rs Talvez!
    Eu adoreii!!
    bjs

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  3. Olá, Carol!
    Nossa, ao ler os primeiros parágrafos de seu texto lembrei de "A Bela da Tarde", do mestre espanhol Luis Buñuel.
    É, nossa esperança cai sobre a Sala de Cinema Ulysses Geremia. O que você acha, Kon?

    Beijosssss

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