terça-feira, 11 de outubro de 2011

Festival do Rio 2011: A Pele que Habito


A PELE QUE HABITO
Título Original: La Piel que Habito
De: Pedro Almodóvar
Espanha, 2011.

Incrível a comoção que Almodóvar causa nas pessoas. Hoje, na sessão de 21h30, em plena segunda-feira, a fila do cinema dava voltas. Todos com expectativa estampada no rosto, e na fala dos que aguardavam ansiosos pelo início do filme. Incluo-me nesse grupo, claro.

Adaptado do livro Tarântula de Thierry Jonquet, assim como no original "A Pele que Habito" traz à tona uma crítica da obsessão pelas aparências. Antonio Banderas interpreta o cirurgião Robert, médico de renome obcecado por criar peles artificiais.Prefiro não comentar mais sobre a sinopse, porque qualquer coisa que eu diga, pode ser spoiler, como vi em outros comentários antes mesmo de assistir o filme.

Uma incógnita para mim esse "novo" rumo do cinema Almodovariano. Desde "Abraços Partidos" sinto que o diretor caminha para águas mais agitadas, onde a trama e o argumento ficam em segundo plano. Não sei avaliar e me arriscaria a dizer que essa característica não seja um demérito, mas apenas uma escolha de Almodóvar, quando privilegia a performance rasgada, uma narrativa hiperbólica de sentimentos ambíguos, emoções fortes sempre, mas que flutuam entre o trágico e dessa vez mais fortemente, o cômico. Não que um dia ele tenha abandonado esse estilo, mas neste é como se ele tivesse colocado uma lente de aumento em tudo. Devo admitir que sinto falta de porções com sabor de "Tudo Sobre Minha Mãe", "Carne Trêmula", "Fale com Ela" e outros. O tempo todo me vieram à cabeça seus trabalhos mais antigos: "O Que eu Fiz para Merecer Isso", "Pepi, Luci, Bom..", "Kika", etc.

É indiscutível o talento, o estilo performático e minucioso de seus filmes. Com uma estética de encher os olhos, desde o figurino impecável, até as locações lindíssimas. Desta vez o excesso de vermelho me incomodou (risos). Aliás, achei "over" a cor (mais uma vez), a predominância do vermelho, alguma forçada de barra para que o improvável se tornasse crível, os acréscimos de elementos bizarros num contexto que variava entre o drama e o absurdo. A trilha sonora, para variar, da melhor qualidade, maravilhosa, um luxo! A atriz principal (Elena Anaya) é indescritivelmente linda, com expressões fortes, um olhar inconfundível e mais ainda o que Almodóvar é capaz de tirar daquela mulher. O mesmo com Antonio Banderas, que na mão do diretor cresce horrores e quando a câmera foca nele, não tem para ninguém.

O cinema subversivo, autoral, competente, encantador de Almodóvar, vem ganhando novas formas, ou não, não sei. Mas lamento pelas tramas maravilhosas e pelos dramas que só ele sabe construir, ficarem "de lado", se tornando apenas pano de fundo para seu palco iluminado de performances, brilhos e "autorismo". De qualquer modo, penso que ele continua podendo tudo!


12 comentários:

  1. Estou muito ansioso para assistir “A Pele que Habito”, pois sou admirador do cinema de Almodóvar, desde sua fase mais visivelmente transgressora, no início da carreira, até suas mais recentes produções. Polêmica ele vem causando, quiçá pela mudança de registro e guinada que vem se anunciando na carreira deste genial cineasta espanhol.
    Beijos

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  2. Adorei o comentário de Ana Carolina, embora para mim o filme seja impecável ( ou "pecável" como iria preferir o autor ). Polêmicas à parte, quando vou assistir Almodóvar me preparo para entrar num universo estético dos mais vibrantes :temas, cenas, pessoas ,obras de arte. Algo para além da beleza, mas que tb a inclui. Depois, espero reencontrar a marca do deboche que carcteriza a sua visada na forma grave como olhamos o mundo, dramaticamente.Ele coloca os nossos rituais e dramas pessoais em seu devido lugar. (Ele é nietzschianao?.)Rimos de nossas desgraças. Não é por acaso que as gargalhadas se multiplicam num simples ritual de vestir de luvas do cirurgião. E por fim, sempre espero uma história redondinha, onde as coisas se encaixam. Nesse sentido, acho que a Pele que Habito já é um clássico

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  3. É verdade..nesse sentido acho que Almodóvar e seu cinema são bem Nietzscheanos sim!
    Ele desconstrói o óbvio e propõe uma sátira às questões mais graves e instituídas da vida.
    Em "fale com ela"isso fica bem claro.

    Marcelo, eu arriscaria dizer que você vai fazer desse limão, limonada! rs Em se tratando do Almodóvar sim, acho que vc irá apreciar os pontos altos do filme e eles terão mais peso.
    Vamos ver!

    beijos

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  4. É, chego até mesmo a ser indulgente com alguns diretores de quem gosto muito, mas não no plano consciente. Me apego de verdade às narrativas de, por exemplo, Woody Allen e Almodóvar, mesmo quando elas não encontram respaldo na opinião de críticos renomados, ou da maioria do público.

    Vamos ver, assim que "A Pele que Habito" estrear, tirarei minha prova dos nove.

    beijos

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  5. Olá, Carol!
    Um dos filmes da atualidade que possuo mais curiosidade em assistir. Almodóvar é sempre Almodóvar.

    Beijossssssss

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  6. Vendo Marisa Paredes agora no Programa do Jô falando sobre "A pele que habito", deu vontade de rever mais cuidadosamente esse estilo que como ela mesma disse é autoral, uma linguagem só dele.
    E acréscimos do Jô, quando citava uma peça de autor americano, tentando adaptar "tudo sobre minha mae"e Marisa P. concordando com ele,que era impossível reproduzir um trabalho de Almodóvar. Que era como se fosse feito um espetáculo baseado em Ulysses pelo J. Joyce!!Mto bom rsrs, deve ser isso mesmo!

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  7. Seu texto está impecável Carol!!!!
    Parabéns :D


    Mana

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  8. Oi Mana :) Vc sempre prestigiando hehe, mesmo nao sendo uma adepta de Almodóvar! Mas devo confessar que dessa vez fiquei querendo mais, ou algo diferente do que "A pele que habito" apresentou!
    Obrigada querida.
    beijao

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  9. Carol,

    Concordo com você que esse é um filme muito mais de forma do que de 'conteúdo'. Ou que, de repente, o que vale aqui é a forma enquanto conteúdo. Mas, ainda assim, acho o filme incrível, de um sadismo extremo baseado na loucura e, por se tratar de ficção, estamos seguros em gostar disso e achar o filme uma pérola. Não sei se é o melhor dos filmes dele, possivelmente não, mas, como foi dito aí em cima também sobre Woody Allen, Almodóvar é sempre Almodóvar. Acho que até o filme mediano vai ser um bom filme...

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  10. Verdade Tati.Até quando é "ruim", é bom rsrs. Penso exatamente assim quando se trata de direrores como W. Allen e Almodóvar!
    E "A pele que habito" está longe de ser ruim. Mas de todos, este não me tocou tanto.

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  11. Sou suspeita para falar, pois como você bem sabe, Carol, também sou indulgente com Almodóvar, como alguns já mencionaram. Acabei de voltar do cinema e achei o filme maravilhoso. Dos últimos três dele, já é meu favorito. Já estou à espera do próximo. :)
    Beijos e realmente o texto está excelente.

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  12. Realmente Isa você é mega suspeita!! Brincadeira rs
    Acho que a maioria sentiu como você e se agradou bastante da "Pele que habito".Almodóvar é bem autoral e sempre surpreende né?Que venham outros!Sempre! beijos

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