David Schwimmer, o eterno Ross da
série televisiva Friends, passeia por campo minado em sua nova incursão atrás
das câmeras de cinema. Falar de sexo, relações virtuais e frustrações, é um tatear
a cada nova cena por emoções e situações que, não raro, contribuem para
desenvolvimentos planos e sentimentaloides. Em Confiar, Annie é uma menina como
tantas outras, repleta de dúvidas e baixa autoestima, que se apaixona pela
internet e estabelece relacionamento virtual paralelo ao que mantém com sua
família e amigos. Ela não hesita muito em ir ao motel com o homem de quase 40
anos que na web se dizia um adolescente tão cheio de incertezas quanto ela.
Há a descoberta do caso pelos
pais, a interferência do FBI e toda uma busca pelo pedófilo. Will, o pai,
interpretado por Clive Owen (num registro que lembra noventa por cento das
interpretações deste bom ator meio monocórdico) fica obcecado por encontrar o
homem que molestou sua garotinha. O paradoxo se apresenta em sua profissão, utilitária
da erotização adolescente para aumentar as vendas de seus clientes. Contradição
rasa, pouco desenvolvida, que soa mais como reprimenda e chamamento moralista à
reflexão do espectador sobre a sociedade em que vive. Intenção boa, por certo,
mas delas o inferno está cheio. A desabalada carreira de Will em busca do bandido
esbarra ainda na dificuldade da investigação, agravada pela própria filha,
enamorada de seu suposto agressor. Estupro, sexo consentido, ou algo que uma
adolescente de quatorze anos ainda não tem maturidade para avaliar?
Confiar é um tanto perdido em seu
próprio escopo, indeciso entre o drama familiar e a expansão de sua causa como
exemplo de algo maior e cotidianamente preocupante. Will parece mais atormentado
por sua impotência do que propriamente pelo delito cometido, e Annie reluta
enquanto amada, aceitando-se vítima do crime somente após tomar conhecimento de
que não foi especial para o meliante. Confiar discute com pouca profundidade o
nocivo protagonismo do sexo na sociedade, mas talvez seu maior pecado seja o de
não assumir posicionamentos que fujam do senso comum. David Schwimmer resvala
em diversos pontos de controvérsia, mas sua narrativa acaba sendo vítima de
signos palatáveis. Tivesse o arrojo de abordar com menos pudor o embate entre
as frustrações do pai e a natural inconsistência da personalidade adolescente
ainda em formação da filha, e o diretor poderia ter realizado algo maior, preso
de menos na obrigação de passar mensagens de alerta, e mais aberto às pessoas. Schwimmer
é exatamente como Will: obcecado pelo tema, pelo que ocorre, e descuidado em
demasia com os personagens que por ele são duramente afetados.
Publicado originalmente no Papo de Cinema.
Publicado originalmente no Papo de Cinema.
Olá, Celo!
ResponderExcluirMais um texto do "Papo de Cinema"? Está rendendo muito conteúdo ao site. Parabéns.
Abraçosss
Eu tenho uma opinião diferente da sua, como já compartilhamos anteriormente. Vejo no filme uma força maior, soluções interessantes e a escolhas acertadas. Ainda que tenha alguns problemas estruturais, foi um filme que, para mim, acertou o tom para sua temática.
ResponderExcluirGrande abraço!!