terça-feira, 21 de setembro de 2010

Esperando eternamente por Godot


Dois homens esperam. Esperam Godot estes tais Vladimir e Estragon, ligados há anos por um destino ou uma trajetória, se assim o quiserem, que não acha “explicação” ou mesmo linha reta para o racionalismo. Godot, não se sabe quem é, apenas temos ciência que é o objeto da espera. Dos dois pacientes, Vladimir é o que mais divaga, o que lembra da expectativa e que tem consciência da passagem do tempo e dos rastros da memória, enquanto Estragon é marcado pela objetividade, por uma espécie de pragmatismo que o torna mais alheio ao que acontece. Os dois homens de chapéu-coco aguardam numa estrada, num cenário que tem por única referência a árvore, e seus galhos convidativos ao suicídio. É melhor acabar com a agonia ou continuar esperando Godot?

Esperando Godot, a mais célebre obra teatral de Samuel Beckett, um dos fundadores do teatro do absurdo, fortemente influenciado por Kafka, é uma peça sobre a espera, sobre os momentos em que transitamos de um estado para outro. O texto é de uma riqueza hipnotizante, e imagino que vertido ao palco deva ficar deslumbrante (claro, dependendo do elenco e direção proposta).

Há como tentar entender, racionalizar quem seria Godot, o que realmente prende Vladmir a Estragon, e vice-versa, ou o que eles esperam deste homem (?). Pode-se ainda tentar colocar em termos mais palatáveis, enquadrando em campos metafóricos, a relação entre Pozzo e Lucky (outros personagens que transitam pela mesma estrada), e as transformações que sofrem de um ato para o outro. Não me parece, porém, o mais sensato apegar-se a estas tentativas, quando a magnitude do texto e das situações, por mais absurdas que possam parecer, bastam-se por si. Claro que há espaço para a razão em meio a este texto tão enigmático, mas o que me arrebatou em Esperando Godot foi a sensação de perpassar as perguntas mais essenciais do ser humano, sem nunca necessitar formulá-las ou mesmo respondê-las. Parece que está tudo lá, envolto numa aura de mistério que jamais deveria revelar certas coisas, pelo bem dos segredos que ainda fazem da vida algo imprevisivelmente sublime.

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