quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Festival do Rio 2010: 01 filme, 01 parágrafo # 01

AMORES IMAGINÁRIOS
Xavier Dolan é o auteur da vez. Incensado em festivais e alvo de grandes elogios e expectativas, o rapaz de 21 anos investe sua inventividade narrativa para contar o pretenso triângulo amoroso entre três pessoas: dois amigos, um garoto e uma garota, que se apaixonam por um exótico jovem. As características de Dolan enquanto roteirista e diretor se mantiveram de seu primeiro filme, o melodrama Eu matei a minha mãe, para este Amores Imaginários. Com uma trilha excelente, que vai de Bach a Dalida, Dolan quase se perde na pretensão de realizar um moderno conto de amor, ficando muito atrás de autores mais competentes, como Christophe Honoré – que aqui parece referência para o jovem. A dúvida maior em relação ao realizador é se ele superará as crescentes expectativas para com o seu cinema, ou se deixará se levar pela crítica em direção ao nada, como aconteceu com M. Night Shyamalan.


MINHAS MÃES E MEU PAI
Lisa Cholodenko, assim como Dolan, tem em mãos a história de um relacionamento que só poderia ser apresentado no cinema atual. Levando com naturalidade e sem muito posicionamento, Cholodenko insere o tema da busca pela paternidade em uma família chefiada por duas mulheres. Com Julianne Moore e Annette Benning em excelentes atuações, Minhas mães e meu pai segue com linearidade os conflitos que surgem no núcleo familiar com a chegada de Paul, doador de esperma que gerou os dois filhos do casal homossexual. Com boas sacadas e um roteiro ágil, o filme infelizmente fica próximo demais ao convencional, tratando o tema novo dentro de uma estrutura já muito utilizada em outros filmes. É um quase grande filme, mas sem dúvida fará sucesso na temporada de prêmios que se aproxima – como já fez com o Teddy no Festival de Berlim.


VIPS
Os brasileiros conhecem bem a história de Marcelo do Nascimento, farsante que se passou por irmão do dono das empresas aéreas Gol, dada a precocidade com que tais fatos foram noticiados pela mídia nacional. Marcelo, interpretado por um preguiçoso Wagner Moura, é o centro de VIPS, produção dirigida com muitos excessos por Toniko Melo. Em seu roteiro, VIPS se propõe a analisar os motivos que levaram o farsante a ir tão longe – e o faz se utilizando de clichês de maneira irresponsável, como se fossem novidades (quem conhece a telessérie Dexter ou dedicar um pouco mais de atenção ao filme vai sacar algo tido como importante em seus primeiros minutos). VIPS é produção nacional que sofre por tentar ser o que não é: um drama biográfico inovador que acaba com cara de produção televisiva (ruim) dos Estados Unidos. Chato é ver a O2 e Fernando Meirelles envolvidos como produtores de um filme que não acrescenta em nada à cinematografia brasileira.


A VIDA ACIMA DE TUDO
É gratificante ter a oportunidade de ver o cinema produzido na África, visto que são poucos os filmes do continente que chegam até nós, brasileiros. A Vida acima de tudo, do alemão Oliver Schmitz, é um drama intenso repleto de boas atuações e de abordagem contundente, que dificilmente deixará seu espectador indiferente. Na trama conhecemos Chanda, garota de 12 anos que comanda sua família disfuncional em meio ao início da propagação da AIDS no continente africano. O tema central do filme são as intrigas, mentiras e o velho e irritante hábito de muitos em controlar a vida dos outros. Chanda passa por péssimas situações enquanto o filme se encaminha por uma genuína tour de force – ainda que se estenda mais que o necessário. Um drama que merece ser visto, embora seja difícil imaginar que o mesmo ganhe distribuição em nosso país. Destaque para a fotografia e para a comovente cena final do longa, confessamente melodramática, mas muito tocante. 

3 comentários:

  1. Opa Kon,

    Gostei dos esquema dos textos curtos, são bem convidativos e fluidos.

    Dos filmes comentados, confesso que nutro especial curiosidade por "Minhas Mães e Meu pai" e por "Amores Imaginários".

    abraços

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  2. Legal "ler" o Conrado... Longos e curtos!

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  3. Olá, Kon!
    Agradável leitura.

    Abraçosss

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