sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Festival do Rio 2010: A Suprema Felicidade


Estreia é sempre estreia! Inevitavelmente vamos cheios de expectativas e com aquele friozinho na barriga típico de quem espera assistir nos Festivais, de ano em ano, o que há de mais novo e inédito. A Suprema Felicidade traduz de cara um status "Jaboriano" de conhecimento, experiência, competência e modismo em especial entre os cariocas. Sendo assim, não gostar de um trabalho desse homem que é cultuado (e eu pessoalmente admito e reconheço toda sua importância na história do cinema brasileiro) não é uma tarefa fácil. A Suprema Felicidade foi amplamente divulgado não só na mídia como nos pontos de cinema do circuito do Festival. Nas filas você só ouvia dizer que: "o filme do Jabor já está esgotado para hoje, amanhã...", "nessa sessão não há mais vagas, tente pela internet". A sala em que eu assisti estava cheia, com lugares vagos, aproximadamente uns 8. O público presente era o mais variado, desde cinéfilos de todas as idades ávidos pelo filme que fez com que, depois de 17 anos de jejum, Jabor voltasse à ativa, até senhoras e senhores passando pelos globais, artistas de forma geral.

Vamos ao filme. E a pergunta que me fiz o tempo todo durante a exibição: O que terá acontecido com Arnaldo Jabor? Qual foi sua real intenção quando criou o roteiro desse filme? Aliás, que roteiro? Pode ser feito tudo que der na telha hoje em dia em nome do cinema? Atuações teatrais na imensa tela do cinema, não havia timing, muito menos planos de sequência. Quando não se esperava mais nada de constrangedor surgia uma fala inusitada, vazia, ao leo (como grande parte do roteiro), sem propósito, fake! Eu nunca tinha visto o Dan Stulbach no cinema, fiquei surpresa e bastante decepcionada, mas me questionando e me lembrando o tempo todo que aqueles atores ali estavam antes de mais nada à serviço de um roteiro e eu volto com a mesma dúvida: que roteiro? Onde ele foi parar? Os excessos de nudez e sexualidade (sem função) em todos os aspectos acompanhados de um linguajar clichê, nesse mesmo sentido, tiraram ao meu ver o brilho dos atores, em especial das atrizes. Os diálogos hiper fracos e para completar não eram sustentados pela aparição dos personagens, ou seja: nem isso salvava.

Outra observação se deu quanto ao equívoco, grande equívoco, na contextualização dos personagens, dos diálogos, do cenário de uma forma geral. O filme se passa na década de 50, mas curiosamente as gírias, maneirismos não acompanham essa época. Fiquei com essa impressão o tempo todo. E, infelizmente, a construção desses personagens se perde num emaranhado de contextos alienados. E como se não bastasse alguns personagens se arriscam numa cantoria que por pouco não faz do filme um musical!

Finalmente, o longa traz dois momentos felizes tanto nas atuações como nas cenas e diálogos. Um deles é a cena vivida pela atriz Tammy Di Calafiori que além de linda nos parece inspirada, e contou com a sorte de interpretar um papel que casou, que pegou e emocionou: Marilyn é seu nome, como a Marilyn de Hollywood, no filme ela tem 16 anos e dança à noite por ordem da mãe que a obriga também a se despir para os clientes por dinheiro. Ela é uma stripper virgem. O outro, não menos brilhante, é o momento final em que ressurge na tela o personagem de Marco Nanini, um homem da terceira idade que, prestes a morrer, revive com muita alegria e saudosismo seu passado de boemia, encontros amorosos nos bailes da vida e na bucólica, retratada no filme, cidade maravilhosa.

Vou encerrando aqui com receio de ter sido rude nos comentários, mas certa de que expressei exatamente o que vi e senti vendo o filme que foi comparado a Amarcord do Fellini. Santo sacrilégio!

5 comentários:

  1. Oi Carol,

    Que ótimo poder contar mais uma vez com teus comentários acerca dos filmes do Festival do Rio.

    Sabe, eu tenho (tinha?) tanta expectativa quando a "A Suprema Felicidade", justamente por marcar a volta do Jabor, e esta aura toda de saudosismo. Vou pagar para ver.

    Seu texto está ótimo, dotado daquela passionalidade que eu admiro em suas colocações.

    Beijos

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  2. Carol,

    Quando seu gosto pelo cinema se une a seu traço mais marcante: a sinceridade, lá vem texto bom. Já viciei neste blog. Parabéns, pela coesão do texto e coragem pra não cair o lugar comum de ter que achar o Jabor o máximo.

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  3. Olá, Carol!
    Respeito sua opinião, contudo ainda pretendo assitir ao filme e retirar minhas conclusões.

    Obrigado,
    Beijosss

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  4. Tb detestei. É como vc diz , parece coisa de amador; mas somos voto vencido, as pessoas estão adorando. Ñ dá pra entender...

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  5. Uma pena este filme não ter agradado, Arnaldo Jabor tem tantas ótimas referências, Fellini, Godard e tantos outros, mas o tempo longe da direção pode ter influenciado, logo q vi o trailer já percebi que tinha algo errado, parece mais algum tipo propaganda do q trailer de cinema.


    beijoss

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