terça-feira, 14 de setembro de 2010

12º Caxias em Cena: 'Hamelin'

Vladimir Brichta conseguiu lotar o Teatro Pedro Parenti na noite de ontem, quando apresentou com outros cinco atores o drama policial "Hamelin". Escrito originalmente pelo espanhol Juan Mayorga, adaptado para os palcos brasileiros por André Paes Leme - que também dirige a peça -, "Hamelin" é centrado no personagem de Brichta, juiz que tenta decifrar com poucas pistas um intrincado suposto caso de pedofilia.

"O flautista de Hamelin", conto infantil dos Irmãos Grimm, serve como metáfora em vários momentos do texto de Mayorga, que com ambiguidade coloca seu protagonista em um dilema moral e profissional que apenas aumenta enquanto ele se aprofunda no caso. O pedófilo consumou o suposto crime ou não? A criança mente ou foi realmente molestada? Tais questões dilaceram um homem que deixa de lado suas outras atribuições - inclusive as familiares - para se dedicar à solução de um crime que pode não ter sequer acontecido.

Em "Hamelin" há uma desconstrução do teatro convencional, onde cada ator interpreta mais de um personagem sem quaisquer caracterizações e com pouca distinção em suas performances. Há certo didatismo nas explicações e repetições inclusas na narrativa da peça, que delega a função de narrador à todos os atores (exceto Brichta) vez ou outra para esmiuçar determinada cena - artifício que acaba soando oportunista por servir como condução ao espectador. A utilização de um flashback em determinado momento apenas soma às falhas do espetáculo, que visa uma maior compreensão por parte do público para um texto que, contado de outra forma, poderia ser acusado de complexo ou ininteligível. Será mesmo? Por vezes até parece teatro tentando ser cinema.

Mesmo assim, "Hamelin" apresenta boas performances de seu elenco, e garanto que o público saiu satisfeito com a intensa construção de Brichta para o juiz Monteiro. Outro destaque fica com o cenário do drama, que ganha forças pelo monocromático preto e branco e pelas sóbrias roupas dos personagens - que com poucos recursos cênicos acabam por intensificar suas interpretações.


Infelizmente a plateia lotada de ontem comprova a eficácia dos globais no teatro - que na maioria das vezes pouco faz em um palco (vide Maria Maya e Sérgio Marone na péssima "Play - Sobre sexo, mentiras e videotape"). Assim é triste prever apresentações com poucos espectadores, mesmo sendo ótimas, para as próximas atrações do Caxias em Cena. Espero estar errado, já que hoje "Cancionero Rojo", com clows diretamente da Argentina, promete divertir e comover quem estiver às 21h15min no Teatro Pedro Parenti. Vejo você lá!

2 comentários:

  1. Opa Kon,

    Ótimo texto. Esta questão é complicada, a da lotação dos teatros por conta da presença de um ou mais globais. Se por um lado é ruim, pois se sabe neste caso que o foco do público é a celebridade e não a arte, por outro é bom pela presença de plateia que, de uma forma ou outra, ajuxa a oxigenar financeiramente um meio, o cultural, já tão debilitado. Também tem o fato de que a presença de globais pode despertar em alguns que se interessam pelo teatro e não pela celebridade, um preconceito que cega para eventuais qualidades do espetáculo proposto. O que é triste, isto sim, é ver que muita coisa boa é apresentada para meia dúzia, enquanto o mais do mesmo, ou o que não acrescenta, é aplaudido de pé e tido como "grande teatro". Sinal dos tempos.

    Abraços

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  2. Oi, Kon!
    Infelizmente, você tem razão: a fama faz o público.

    Abraçossss

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