segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Lar da Intolerância


Confesso que não vi e nem quero ver Nosso Lar, por estes dias tão alardeado como o mais caro filme brasileiro. O orçamento, o lançamento, as expectativas de bilheteria, tudo é grandioso neste projeto que levou às telas a obra mais famosa psicografada pelo médium Chico Xavier. Já li muita coisa sobre o filme, muito crítico descendo a lenha no visual brega, nos diálogos declamados e em todo viés doutrinário da narrativa. Não tenho vontade de ver Nosso Lar por diversos motivos, entre eles os citados acima, mas nos quais não se encontra ligação entre o fato dele ser galgado em crenças religiosas e a inexistência em mim das mesmas. Não quero ver o filme por que acredito que não seja bom cinema, só isto.

O que é ridículo comprovar, mas infelizmente inevitável, é que as pessoas misturam as coisas. Tudo bem, que quem compartilha dos preceitos religiosos pregados pelo filme se sinta mais convidado ao cinema, eu entendo, é normal. O problema está em confundir as coisas, em achar que tudo relacionando a repercussão do filme (críticas, sejam elas positivas ou negativas, ou mesmo comentários mais superficiais) esteja ligado a crença, neste caso à doutrina espírita. Procure verificar em algum blog de qualquer crítico que teça linhas  desfavoráveis a respeito de Nosso Lar, e verá que nos comentários sempre há alguém a invocar o respeito pela fé como escudo para proteger o filme.

Não estou aqui levantando bandeira contra esta onda de filmes ligados ao espiritismo, que parece uma das pragas cinematográficas brasileiras do momento, mas que goste ou não, tem seu público, e contribui para a diversidade do cinema feito no Brasil. Custo a entender como alguém, com algum traço de racionalidade, possa ser portador de tal cegueira conspiratória que dissemina o “ódio” àqueles que não corroboram consigo - não na esfera religiosa, mas na esfera cinematográfica (embora eles embaralhem os dois) - do entusiasmo por Nosso Lar e sua visão "confortante" da vida após a morte. Parece que para estes, os críticos que falam mal de Nosso Lar deveriam todos arder no fogo do inferno. Alguém já ouviu falar em respeitar a opinião dos outros? O respeito, este tão em falta, não é um dos pilares de qualquer orientação espiritual?

Um comentário:

  1. Olá, Celo!
    Cada coisa no seu devido lugar. Sou contra a crítica que fez para o blog e entendo os que atacam as outras detratoras do filme, as quais entopem revistas, jornais e internet, principalmente. Uma crítica válida, neste caso, é uma crítica psicografada. O que pensa de renomados estudiosos cinematográficos já falecidos tecendo comentários sobre o quão bom ele é? Truffaut? Sim, gostaria de presenciar isso.

    ResponderExcluir