domingo, 29 de dezembro de 2013

CINEMA A DOIS | Nothing's All Bad (Smukke mennesker)


A solidão elevada à máxima potência. Assim como li em uma crítica, acredito que Nothing's All Bad (Smukke mennesker) guarde pequenas semelhanças com Felicidade, de Todd Solondz, mas no dinamarquês não há complementariedade viável nos dramas vividos pelos personagens, diferente do visto em Felicidade. Em Nothing's All Bad (Smukke mennesker) o autor não nos deixa saída para felicidade, para uma solução. Sem esperança alguma, o filme vai tomando seu rumo. Tudo está acabado desde o princípio.

A solidão é avassaladora e sem limites. Em um ambiente hostil e frio, em todos os sentidos, a degradação humana vai tomando conta das cenas, da vida dos personagens e ainda quando nos últimos minutos surge uma luz, bem de longe, como se dali pudesse haver transformação, o que fica para nós é uma sutil acomodação da dor, do sofrimento, daquilo que restou e agora pode ser processado, como uma espécie de redução de dano.

Grandes atuações que sobrevivem às cenas e ao roteiro, estes não tão bons quanto.
__________________________________

Provavelmente, o cinema escandinavo é aquele em que mais aflora o desconforto brutal do ser humano, seja frente a seus fantasmas ou mesmo à angústia de viver em comunidade. Nothing's All Bad (Smukke mennesker) é uma realização de 2010, e não foge dessa vocação de buscar nas extremidades, na sordidez, a chave para a deterioração geral.

Em Nothing's All Bad (Smukke mennesker) o sexo é imprescindível, pois via pela qual desaguam tanto o desejo, quanto a falência dos personagens. As pessoas transam para aplacar a solidão, para esquecer um problema, para aceitar seu corpo, para ganhar a vida, mas dificilmente por amor ou puro prazer. Nesse mundo onde a volúpia se aproxima da morte, sexo e afeto são quase insociáveis. Por sua vez, as relações de sangue parecem apenas servir como expositoras de hereditariedade, mas não no que diz respeito a algo do código genético, e sim ao seu equivalente emocional.
   
Se o filme força algumas coincidências, elas são justificadas em parte pelo impacto do final, dado numa sequência meio ridícula, desajeitada no princípio, mas, logo percebida como fechamento agridoce e, em certa medida, esperançoso, para pessoas cujos caminhos pareciam irremediavelmente longe de qualquer felicidade. 


Por Ana Carolina Grether e Marcelo Müller

6 comentários:

  1. Vou deixar para assistir pós réveillon ... Temo abraçar esta ideia do acabado. Solidão só se for quentinha...

    ResponderExcluir
  2. Olá, Bianca

    É, melhor deixar uma "pancada" como essa para 2014, pós-réveillon e tudo mais..

    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Pelo jeito, melhor mesmo é assisti-lo num desses dias em que estamos bem estruturados, sobretudo emocionalmente. Grande abraço aos dois.

    ResponderExcluir
  4. Com certeza, Rafa.
    É um desses filmes onde a desilusão se impõe, portanto não recomendado para dias previamente tristes...hehehe

    Abraços

    ResponderExcluir
  5. O filme é de fato perturbador, e o texto de vocês muito bem escrito. No mesmo clima deste filme há o estoniano "Sugisball" de 2007 (http://www.imdb.com/title/tt0834170/). Preciso concluir "Felicidade"; quando comecei a assistir estava num daqueles dias pouco indicados, e se não me engano: algo no diálogo da abertura me deixou desconfortável. Como se todos esses filmes pudessem denunciar nossa própria fragilidade, e isso assusta.

    ResponderExcluir
  6. Solidão só se for quentinha!! rs adorei Bianca!!!! :)
    Fico no aguardo de suas impressoes. beijos

    ResponderExcluir