domingo, 16 de fevereiro de 2014

CINEMA A DOIS | DENYS ARCAND – Amor e Restos Humanos (1993)


Os anos 1990 são muito bem representados e retratados por Denys Arcand em Amor e Restos Humanos, filme de 1993, aliás, seu primeiro realizado na língua inglesa. Recheado de obsessões, histerias e perversões, quase todas elas voltadas para o cenário sexual, o longa contextualiza uma sociedade egoísta, assolada pela solidão, pela dificuldade de viver os afetos e demonstrar sentimentos, repleta de fraquezas.

Os personagens são a própria representação dos tais “restos humanos”, o que sobrou da busca do amor ideal, da definição da sexualidade a partir de padrões rígidos, moralistas e, até certo ponto, irreais. Surgem crises existenciais de todo tipo, concomitantes ao inconsciente coletivo também perturbado socialmente e devastado pelo início da AIDS. Arcand parece renovar seu estilo em Amor e Restos Humanos. Menos organizado, pouco filosófico, mais prático e dinâmico, exatamente como os anos 1990 na América.
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Não importa o gênero, a orientação sexual, as taras, todos em Amor e Restos Humanos tateiam desorientados procurando algo a mais, uma satisfação que parece improvável em meio à dificuldade dos relacionamentos ou mesmo frente aos perigos à espreita, sejam eles virais ou humanos. O primeiro filme em inglês de Denys Arcand se foca nas patologias típicas de uma urbanidade caótica, onde convivem personagens essencialmente soturnos e noturnos à caça de algo que dê suporte às suas vidas repletas de frustrações, desgostos, de um vazio mais geracional do que particular.

A televisão é sintomática da desordem. Cada troca de canal expõe uma desgraça diferente, mostra um mundo fraturado em sua ordem social. O sexo é a via pela qual trafegam as mais diversas pulsões, isso visto não apenas na figura da dominatrix (e sensitiva) que realiza as fantasias alheias, mas também no serial killer, no garoto fascinado pelo protagonista e, sobretudo, no próprio, alguém que parece vagar mais do que qualquer outro, a despeito da aparente segurança. Amor e Restos Humanos radiografa muito bem o início dos anos 1990 e seus insones em busca de afeto entre o que restou.


Por Ana Carolina Grether e Marcelo Müller

3 comentários:

  1. Muito bom! Fiquei com vontade de conferir. Grande abraço.

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  2. Edição é tudo nesta vida!!!! hehe
    Marcelo, o cinema a dois tem sido ótimo! Em todos os sentidos.

    Obrigada pela parceria, mesmo não sendo 50% 50% rsrs.

    beijos

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  3. Heheheheehe
    A edição é importante? É, claro, mas sem ideias a editar ela não serve de nada...hehe

    Obrigado também pela parceria, Carol. Vida longa ao Cinema a Dois.

    Beijoss

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