Quatro homens e quatro mulheres
imersos em intelectualismos e crises existenciais figuram este tragicômico
filme de Denys Arcand, que se passa em 1986. Arcand faz questão de dividir bem
esse grupo e, não à toa, adota um estilo sexista para ilustrar os dramas
vividos pelos gêneros, ambos em sua máxima potência de caricaturas. O filme
começa com os homens preparando um jantar e divagando sobre necessidade sexual,
aludindo a filósofos e suas teorias, enquanto as mulheres, na cidade praticando
exercícios, também divagam sobre sexo, desejo reprimido e, hipocritamente,
desdenham de filósofos e teóricos, pois praticam exatamente aquilo que rechaçam.
O filme é marcado basicamente por
diálogos sobre sexo, teorias filosóficas, política de esquerda e aspirações
pessoais. Algumas pessoas podem achar essa narrativa enfadonha, uma vez que o
foco é bem específico e retrata uma geração. Sem grandes apelos, e talvez daí
venha o encanto do filme, Denys Arcand denuncia um momento histórico, político
e social que está para acontecer, que está estourando e, diante dessa
expectativa, das dúvidas, incertezas e instabilidades, ele nos mostra a
angústia e apreensão dos personagens que procuram suas posições nesse contexto,
sem deixar de refletir pelo que passam de maneira sofrida e questionadora. Um
excelente filme que trata da forma mais elucidativa possível sobre as questões
existenciais frente a um cenário real político-social.
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O Declínio do Império Americano (1986) fala estritamente a respeito
de crises. Colapsos históricos citados, querelas de foro íntimo, a situação
instável da época, tudo entremeado pelo sexo. Afinal de contas, os
intelectuais, a maioria professores universitários, discorrem boa parte do
filme sobre aventuras extraconjugais, experiências, taras e fetiches. Os homens
de um lado, preparando a comida, vangloriam seus casos, festejam a “diversificação”
como maneira de sustentar um casamento feliz, enquanto elas, na academia, não
deixam por menos, mostrando que já se ia o tempo da fêmea submissa. Transar ou
não transar, eis a questão, até onde é possível, bem resolvida por todos que
ali estão.
Denys Arcand estreou no fim dos
anos oitenta com esse filme verborrágico, no qual o sexo desempenha o papel de
fundamentar relações. Nas entrelinhas, o desconforto inerente à busca por uma
inalcançável felicidade duradoura. Quando todos juntos, as revelações antes
recebidas com bom humor se tornam amargas, pois delas surgem constrangimentos,
falsetes, mentiras e outros expedientes utilizados para manter status. O incômodo
logo vai passar, afinal de contas a vida é mesmo feita de enlaces e rupturas,
independente do entorno social, da moeda vigente, do sistema de governo, da
moral e dos bons costumes. Num filme tão (bem) falado assim, a imagem final se
impõe como símbolo de mudança, sinal de uma transitoriedade inexorável que
afeta da mesma maneira o clima, as conexões humanas e a constituição dos
impérios.
Marcelo, ficou muito bom esse Cinema a dois, não só pelos textos(complementares) na minha opinião, mas também pelo diretor, por esse ser o 1o filme e tão emblemático e também tão atual. E daqui pra frente só alegrias rs.
ResponderExcluirParabéns, muito bom voltar a ler o Cinema a Dois.
ResponderExcluirForte abraço.
Carol.
ResponderExcluirTambém gostei bastante desse Cinema a Dois, e pensar que temos muita coisa boa pela frente é mesmo bem animador...hehee
Beijos
Rafa.
Obrigado por sempre nos prestigiar e comentar.
Abração