domingo, 2 de fevereiro de 2014

CINEMA A DOIS | DENYS ARCAND – O Declínio do Império Americano (1986)


Quatro homens e quatro mulheres imersos em intelectualismos e crises existenciais figuram este tragicômico filme de Denys Arcand, que se passa em 1986. Arcand faz questão de dividir bem esse grupo e, não à toa, adota um estilo sexista para ilustrar os dramas vividos pelos gêneros, ambos em sua máxima potência de caricaturas. O filme começa com os homens preparando um jantar e divagando sobre necessidade sexual, aludindo a filósofos e suas teorias, enquanto as mulheres, na cidade praticando exercícios, também divagam sobre sexo, desejo reprimido e, hipocritamente, desdenham de filósofos e teóricos, pois praticam exatamente aquilo que rechaçam.

O filme é marcado basicamente por diálogos sobre sexo, teorias filosóficas, política de esquerda e aspirações pessoais. Algumas pessoas podem achar essa narrativa enfadonha, uma vez que o foco é bem específico e retrata uma geração. Sem grandes apelos, e talvez daí venha o encanto do filme, Denys Arcand denuncia um momento histórico, político e social que está para acontecer, que está estourando e, diante dessa expectativa, das dúvidas, incertezas e instabilidades, ele nos mostra a angústia e apreensão dos personagens que procuram suas posições nesse contexto, sem deixar de refletir pelo que passam de maneira sofrida e questionadora. Um excelente filme que trata da forma mais elucidativa possível sobre as questões existenciais frente a um cenário real político-social.
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O Declínio do Império Americano (1986) fala estritamente a respeito de crises. Colapsos históricos citados, querelas de foro íntimo, a situação instável da época, tudo entremeado pelo sexo. Afinal de contas, os intelectuais, a maioria professores universitários, discorrem boa parte do filme sobre aventuras extraconjugais, experiências, taras e fetiches. Os homens de um lado, preparando a comida, vangloriam seus casos, festejam a “diversificação” como maneira de sustentar um casamento feliz, enquanto elas, na academia, não deixam por menos, mostrando que já se ia o tempo da fêmea submissa. Transar ou não transar, eis a questão, até onde é possível, bem resolvida por todos que ali estão.

Denys Arcand estreou no fim dos anos oitenta com esse filme verborrágico, no qual o sexo desempenha o papel de fundamentar relações. Nas entrelinhas, o desconforto inerente à busca por uma inalcançável felicidade duradoura. Quando todos juntos, as revelações antes recebidas com bom humor se tornam amargas, pois delas surgem constrangimentos, falsetes, mentiras e outros expedientes utilizados para manter status. O incômodo logo vai passar, afinal de contas a vida é mesmo feita de enlaces e rupturas, independente do entorno social, da moeda vigente, do sistema de governo, da moral e dos bons costumes. Num filme tão (bem) falado assim, a imagem final se impõe como símbolo de mudança, sinal de uma transitoriedade inexorável que afeta da mesma maneira o clima, as conexões humanas e a constituição dos impérios.   

Por Ana Carolina Grether e Marcelo Müller

3 comentários:

  1. Marcelo, ficou muito bom esse Cinema a dois, não só pelos textos(complementares) na minha opinião, mas também pelo diretor, por esse ser o 1o filme e tão emblemático e também tão atual. E daqui pra frente só alegrias rs.

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  2. Parabéns, muito bom voltar a ler o Cinema a Dois.
    Forte abraço.

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  3. Carol.
    Também gostei bastante desse Cinema a Dois, e pensar que temos muita coisa boa pela frente é mesmo bem animador...hehee
    Beijos

    Rafa.
    Obrigado por sempre nos prestigiar e comentar.
    Abração

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