domingo, 4 de abril de 2010

Aprendizagem particular da compreensão artística / cultural


Olá, caro amigo-leitor.

Há cerca de uma semana comecei a leitura de Imagens (Martins Fontes, 2001, 448 páginas), livro em que o cineasta sueco Ingmar Bergman rascunha sobre sua vida e as motivações artísticas e/ou comerciais que o levaram à suas produções. No princípio, semelhante a ocasiões passageiras e, acredito, ainda vindouras, certa dificuldade se apoderou de minha percepção, que claramente sofreu perda de fluidez. Eis o motivo desta reflexão com pretensões inapropriadas ao academicismo.

A leitura não se faz presente e plena em sua totalidade apenas com o conhecimento do alfabeto e suas conexões primárias. Nem mesmo o conhecimento de verbos, interjeições, adjetivos, preposições, a garantem. Afirmo que temos de aprender a ler certa obra ou certo autor. É o que, por motivos que me fogem da exatidão, chamo de aprendizagem particular da compreensão artística / cultural.

Os diversos autores e artistas, aqui procuro me deter no foco literário, apesar de não lhe fornecer exclusividade de fundamentação, produzem diversos estilos e tipos de narrativa. Com as mesmas palavras, dois ou mais artistas podem promover uma discussão por meio da divergência intelectual. No tocante analisado de maneira diminuta e nada satisfatória que compõe a história recente deste texto, há também a formatação (itálico, negrito, recuo de parágrafo...), onde no decorrer da experiência de leitura, compreendemos a lógica empregada por seu realizador.

Tomemos como exemplo o cinema: a palavra “amor”, proferida por uma personagem de Bergman, geralmente, carrega consigo uma aspereza, uma ilusão, por vezes uma amargura. Já no cinema do coreano Wong Kar-wai, soa como platônico, uma projeção, sentimento verdadeiro e puro almejado.

O blog aqui presente não é uma bolha na realidade tal qual a enxergo e, como acontece nas outras mídias - literatura, cinema, música, pintura, basta analisarmos se devemos nos dispor ao aprendizado de sua leitura como ela se apresenta.

2 comentários:

  1. Olá Rafa,

    Mais uma reflexão pontual de sua partem, suscinta e muito bem fundamentada.

    Esta questão da parcepção é bem complexa mesmo, e eu sinto muito isto quando me aventuro pelo cinema de diretores dos quais nada tinha visto. O tatear pelos novos caminhos, pelas novas formas, pode ser, num primeiro momento, tanto revigorante como doloroso, pelo ajuste da percepção. Quando menciono a dor, não quero dizer que isso seja exatamente ruim, pois a sensação dolorosa de se tomar contato com uma nova narrativa, com um estilo antes não visto, pode nada mais ser do que a expansão da nossa capacidade perceptiva que, não raro, provoca um choque. Este se mostrará, a posteriori benéfico, pois não deixará marcas como cicatrizes e sim provocará uma abertura, por onde novos conhecimentos entrarão sem mais grandes traumas.

    Abraços

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  2. Olá Rafa,

    Ótima postagem sua. Lembro-me de ter apreciado muito Imagens, mas de não ter chegado a leituras tão profundas quanto as suas enquanto lia sobre a obra de Bergman. Sua indagação, sem dúvidas, é extremamente pontual e válida.

    Grande abraço!

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