sábado, 29 de janeiro de 2011

Exit Through the Gift Shop e a arte de rua

 
Não conhecia muita coisa de street art antes de assistir Exit Through the Gift Shop, documentário dirigido por um dos mais controversos e enigmáticos expoentes deste movimento urbano, o famigerado Banksy. Também não conhecia Banksy, é bom que se diga. Ele é considerado um gênio deste tipo de expressão artística, que tem no grafite seu maior representante, mas não o único, uma vez que artistas colam imagens em paredes, fazem esculturas e as inserem em paisagens urbanas, marcam locais com elementos icônicos, etc. Enfim, é uma forma poderosa de expressão, nascida nas grandes cidades, que visa tirar um pouco da uniformidade de paisagens cada vez mais estéreis. Por favor, não confundir street art com pixação, já que a única coisa que ambas possuem em comum é o caráter ilegal, mas de resto, são tão díspares como a Monalisa e os adesivos de família colados em carros, tão em voga.

Pois bem, Exit Through the Gift Shop me mostrou um mundo novo, sem exageros, pela possibilidade desta arte urbana que, pelo menos no material documentado, tem muito a dizer. Afinal de contas, pode ser até traduzida como ato político, por exemplo, a série de desenhos feitos por Banksy no muro que divide Israel e a região palestina da Cisjordânia. Fiquei meio desconcertado com algumas obras, com a criatividade e a paixão com as quais os artistas desafiam leis, convenções e imprimem sua marca, geralmente contestadora, no cotidiano nas pessoas. Parecem-me atos de expressão artística genuína, pelo impacto ético e estético.

Fosse por mostrar de maneira tão impactante e interessante o mundo da street art, Exit Through the Gift Shop já poderia ser classificado como ótimo, mas ele é mais. O filme é dirigido por Banksy, este homem que se tornou notório, e que quase ninguém conhece, que vive nas sombras de um nome. Mas o documentário não é sobre street art, nem sobre ele mesmo, e sim sobre Thierry Gueta, um francês que documentava tudo com sua câmera de vídeo e que, apaixonado pela adrenalina e pelo trabalho dos grafiteiros e artistas de rua, fez do acompanhamento destes, sua rotina. Ao tomar conhecimento do trabalho de Banksy, Thierry fica obcecado por conhecê-lo e mostrá-lo em ação, e quando tem a oportunidade, age como um fanático em busca de uma divindade.

Exit Through the Gift Shop, então, é dirigido por um artista, e fala sobre como alguém queria muito documentá-lo? Não, não é bem isso. Como em outros casos, muito se fala sobre a verdade do filme, sobre se ele seria um documentário mesmo ou mais uma das obras de arte controversas de Banksy, puramente ficcional. Controverso o filme é, de qualquer maneira, mas ficção? Documentário? Gueta é mesmo verdade ou um veículo para Banksy discutir a real natureza da arte? Dirão alguns: “sim, mas Gueta tem trabalhos, exposições, fez o design de capas de CD’s de divas da música pop, então ele é real”. Será mesmo? Enfim, discussões desta natureza à parte, que por si só dariam um post, o importante é que de um documentário expositivo sobre a bastante interessante street art, Exit Through the Gift Shop se torna uma discussão muito forte, importante e atual sobre os limites da arte, sobre o que pode ser considerado artístico, e o que é pura pretensão gráfica. Cineastas que filmam sem parar, sem saber o que fazer depois, artistas que copiam adoidado, que são fãs de mídia e ficam ricos à custa da “contestação” conformada com o pensamento opressor dominante, são verdadeiros artistas ou meros corruptores de algo belo que poderia realmente mudar a vida das pessoas? Perguntas pertinentes levantadas por este belíssimo filme.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Devido ao entusiasmo que o acomoteu, tenho o documentário por ti resenhado em uma lista, não física, mas mental, a qual sofre do maior mal das coisas existentes somente no imaginário humano, seja de um ou mais indivíduos: o significativo fluxo de informações que giram no cérebro e perdem o lugar de destaque sem que o dono o perceba.

    Abraçosss

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  2. Traduzindo o que o Rafa escreveu em uma linguagem quase ininteligível: pretendo ver o filme e não esquecer disso! hahahaha

    Já li bastante sobre o trabalho do Bansky e ele me impressiona muito. É difícil encontrar esse tipo de arte engajada, que tenha representatividade tanto no espectro da arte quanto se levarmos em consideração sua importância social. Mukarovski viu essa dualidade e desenvolveu a tipologia das funções, que analisa justamente a expressão estética da arte mas também sua relevância na esfera social - acho isso muito interessante.

    Penso que se o seu ótimo texto me sucitou tais pensamentos, mal posso esperar pelo que o filme fará.

    Um abraço Celo!

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