quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Estrada de McCarthy

Olá, caro amigo-leitor!

O início de contato com autor de grande renome na cultura é sempre emaranhado de responsabilidades. A aura que o cerca praticamente obriga ao espectador certa dose de complacência, negando desagrados, mesmo em nível subconsciente. No final de 2010 iniciei a jornada por A Estrada, do cultuado literato norte-americano Cormac McCarthy.

A falta de vírgulas e a usurpação gramatical em dados momentos, soam como erros, do autor ou de sua tradução tupiniquim. Vejo-me no lamaçal da ignorância sem saber ao certo o que afinal é de fato, todavia acredito que faça parte do estilo de McCarthy, ao menos neste livro, talvez para reforçar o aniquilamento de regras do mundo apocalíptico esboçado em suas 234 páginas da edição brasileira.

O enredo se edifica sob a relação afetuosa entre pai e filho, estes nunca nomeados, num cenário de sucateamento do planeta, o qual sofreu e ainda sofre uma espécie de incineração plena, sem distinção de área urbana ou rural. Os poucos sobreviventes vagam entre corpos, cinzas, neve, escassos recursos, destroços e, essencialmente, medo. O medo guia significante gama de ações e reações, desde o alerta constante, até o assassinato e o canibalismo, inerentes ao quadro isento de moral e justiça.

A dicotomia entre o bem e o mal é uma distinção difícil a ser estabelecida pelo pai, o que gera confusão na concepção do pequeno garoto. A moldagem de sua personalidade, em ambiente de valores deturpados e inexorável glaucoma crônico, serve como obstáculo acrescido aos naturais e apocalípticos, na lenta peregrinação dos heróis.

Não li, contudo conheço de forma rasteira o mangá (quadrinho japonês) setentista, Lobo Solitário, onde pai e filho com o auxílio de um carrinho de bebê rústico, vagam pelo Japão feudal, em meio a massacres e a uma realidade mísera quanto a valores morais e éticos. Em A Estrada, há também um carrinho de supermercado, utilizado pelos protagonistas para armazenarem seus poucos itens de sobrevivência.

O livro, vencedor do Pulitzer de 2007, ganha adaptação de boa repercussão na sétima arte em 2009 sendo o talentoso Viggo Mortensen sua viga mestra. Caso a adaptação fosse outra, própria de uma pinacoteca, certamente predominaria o tons cinza e traços fortes e marcantes do seu idealizador.

A Estrada é uma obra literária de enormes méritos, quando seu autor nos conecta a um mundo sem nenhum tipo de atrativo. A esperança que move os personagens centrais da trama é quase surreal e bastante tênue. O suicídio é uma forma de escaparmos covardemente de nosso destino, salvo motivado por alguma enfermidade. Porém, a fuga em, A Estrada, seguidamente surge como caminho único e inapelável.


Até breve.

PS. 01: Obrigado pelo presente, Isa.
PS. 02: Segue abaixo o trailer do filme.



2 comentários:

  1. Olá Rafa,

    Belíssimo texto, devo dizer.
    Neste momento estou lendo "A Estrada" e concordo que de início a ausência de vírgulas e algumas incosntâncias gramaticais deixam-nos a dúvida: erro de tradução, falta de talento do narrador ou estilo? Aos poucos percebemos que isto tudo é estilo e que inclusive as lacunas entre os acontecimentos e o aparente desprendimento são artifícios que reforçam a dramaticidade da jornada de pai e filho. Estou gostando muito. Após, seguirá a audiência do filme, alvo de muitos elogios. É esperar e ver.

    Abraços

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  2. Olá Rafa!

    Não posso escrever sobre este livro ou quaisquer outros de McCarthy, porém vi o filme algum tempo atrás e o mesmo me agradou - ainda que possua alguns excessos e um final desnecessário, talvez redentor demais para a história claramente pessimista.

    Fico com a dica de leitura para uma próxima ocasião.

    Abraços!!

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