domingo, 8 de maio de 2011

Fabricação em série, não de série.



Olá, caro amigo-leitor!

2001. Ano de uma Odisséia no espaço aéreo norte-americano. Detentor dos direitos sobre a obra: Osama Bin Laden, terrorista e líder da temida Al-Qaeda. Perplexidade. O mundo inteiro mergulha em inércia, embasbacado perante o tombamento de um dos mais latentes símbolos capitalistas e, representante por excelência da hegemonia econômica ianque. Correria, fumaça, sirenes, vítimas, vistas anuviadas.

2011. Ano de Gotcha!. Tiros, não em Columbine. No Paquistão. Soldado. Anônimo. O líder religioso e político tem sua linha vital interrompida, após anos de perseguição. Todos em seu encalço e, talvez o detentor do dedo que apertou o gatilho, me foge a quantidade de vezes, pouco soubesse o porquê exatamente fazia aquilo, daquela forma. Apenas cumpria ordens. É um herói, ainda que sem nome e endereço. Apenas nacionalidade. Orgulho americano. A maior realização da vida. Sem divulgação, não lhe serve de nada. A mídia não tem forma de o formar.

Soube da notícia que toma espaço grandioso na imprensa do planeta há dias, no final de uma noite, pouco antes do pronunciamento oficial de Obama, quando fontes não oficiais já forneciam a notícia aos meios de comunicação. O arauto dela, meu irmão Marcelo, disse: “Rafa, pelo que li na internet, o Osama Bin Laden morreu. Quanto tempo será necessário para a realização de filmes, tendo como núcleo o “inimigo número um das Américas”?

O homem responsável pela injusta generalização e desconfiança inescrupulosa na população árabe, os tomando como bandidos, homens explosivos, terroristas, antes de qualquer tipo de embasamento, será alvo certamente da indústria cultural. Difícil uma terminologia que seja tão paradoxal. Mas essa o é. Comércio e cultura, lado a lado, em recíproca ação parasita. Camisetas, chaveiros, jogos, filmes, livros, e por aí sem destino limítrofe. Será que Osama sofria bullying na infância? Provável, afirmariam sem gaguejos ou inibição os sensacionalistas de sentidos apurados.

Pronto. Perfeito. Encontramos a fonte de todos os problemas do mundo: o bullying. Até que as pessoas sofressem agressão e represália alguma se efetivasse, tudo certo, em seu devido lugar. A notícia e a repulsa forçam passagem perante o surgimento de um Davi contemporâneo. Satanás, o anjo excomungado do convívio com seu criador, teria sofria mal semelhante? Boa, eis um belo mote para que a indústria fabrique em série signos de uma “cultura” cada vez mais banalizada e enfraquecida.


Abraçossss

3 comentários:

  1. Rafa, é por isso que eu fico pegando no pé para tu postar mais. Teu texto, mais do que dotado de técnica, possui alma.

    Sobre Osama, e a maneira como a indústria se apropria de coisas como esta é objeto de reflexão. É só lembrar que a figura do libertário Che Guevara hoje é mais utilizada como estampa de camiseta e um monte de traquitanas, do que como exemplo ideológico. A mídia e a massa se apropriam, deturpam, enlatam e vendem.

    Sobre Bin Laden, logo aparecerão filmes, séries, quadrinhos, e tantas outras coisas sobre a morte do homem. Na TV se multiplicam as reportagens acerca da "Tropa de Elite americana" que erradicou o inimigo número um do mundo. Já não aguento mais, não propriamente a cobertura, mas a constante banalização que ela promove.

    Será que na próxima Festa da Uva, no início do ano que vem, poderemos comprar botons do tipo "Eu não matei Bin Laden"? Bem provável.

    Abraços e, mais uma vez, parabéns pelo texto, paradoxalmente lúcido e esquizofrênico.

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  2. Rafa,

    Osama Bin Laden não sofria de bullying, não. Sabe do que ele sofria? De religião.
    Parte das ações dele eram em nome de Deus. Coisas que nos dias modernos em que vivemos estão ultrapassadíssimas!
    Mas é claro que a mídia fará correlações com a possibilidade de ele ter sido vítima quando criança.
    A obrigação da mídia é fazer seus espectadores de fantoches.
    Com relação às consequências comerciais de toda essa história, simplesmente elas acontecerão pois vivemos em uma civilização capitalista e aproveitadora.
    Sem mais delongas como diria meu avô, gostaria de reiterar sobre a frequência de seus maravilhosos arranjos de palavras! Parabéns.
    Um beijo.

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  3. Isabela, belas palavras, Isa.

    Beijos e obrigado pela visita.

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