quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mostra #02 - Os Incompreendidos


Revistar Os Incompreendidos, a obra que marcou o início da carreira cinematográfica de François Truffaut, é sempre um prazer, um deleite para nossos olhos constantemente bombardeados pela parca qualidade da maioria dos filmes contemporâneos. Antoine Doinel, alterego do diretor, é outro marginal, característica, aliás, dos protagonistas de alguns dos melhores filmes da nouvelle vague, por não se encaixar nos moldes ditados pelos poderes institucionalizados e reguladores da sociedade. Antoine não se adéqua à escola, não vê nela um espaço para si, assim como se percebe deslocado no seio familiar, este degradado por traições, dissimulações e falta de afeto. Doinel só encontra alforria na rua, local de descobertas e da livre exploração de um mundo que tratará de lecionar a ele algumas coisas valiosas.

Antoine Doinel lá pelas tantas se vê preso, encarcerado por não ser como a maioria, um modelo inadequado. Abandono dos pais, opressão do sistema, tudo conspira para que ele não chegue a lugar algum e, no fundo, baseado em suas próprias vivências, Truffaut com este filme nos diz que as engrenagens que movem a máquina, por vezes só tratam de massificar e apequenar algumas ambições pessoais. Fugir pode ser a solução, correr para a contemplação das torrentes do amplo mar que se desnuda frente a nossas expectativas pode ser o caminho para esta liberdade que tanto almejamos. 

A conversa ontem no SESC foi boa, eu e o Conrado não parávamos de tagarelar, externando nossa paixão tanto pelo filme quanto pelo movimento em si. Das dez pessoas que viram Os Incompreendidos, seis (incluindo aí duas do SESC) ficaram para a conversa, e tivemos intervenções interessantes que amplificaram a experiência. Continuo pesaroso apenas pela pouca frequência do público, e não me venham com a desculpa de frio e chuva, pois eles, por exemplo, não são empecilhos para que os bares e casas noturnas encham por aqui. É como eu disse ontem, falta àlgumas pessoas se permitirem novas experiências, que as tirem de seus cotidianos viciados.

Todos convidados hoje para a sessão de Quem Matou Leda?, de Claude Chabrol, à partir das 19h no SESC Caxias do Sul. Se tiver tempo (no momento estou atolado num trabalho de faculdade), escrevo amanhã também sobre esta sessão.

3 comentários:

  1. Tem como fazer um evento desses no Rio? Eu tô aqui com água na boca só por causa desses dois posts.

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  2. Lindos textos Marcelo :)
    Tô com o Bruno e não abro, mas acrescento a pergunta..:tem como vcs virem pro RJ promover um evento desses?
    Pra mim só vale se for com vocês comentando, se não..não rs.

    Parabéns pelos textos, mto bonito esse do"Os incompreendidos".

    beijos

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  3. Olá, Celo!
    Como sabe, não compareci à exibição, mas não nego a qualidade de arte do filme por ti comentado. "Os Incompreendidos" é capaz de demonstrar boa parte da capacidade de fazer cinema de Truffaut.

    Abraçossss

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