Direção: James MangoldRoteiro: Halsted Welles, Michael Brandt, Derek Haas, baseado num conto de Elmore Leonard
Elenco: Russell Crowe, Christian Bale, Ben Foster, Logan Lerman, Dallas Roberts, Peter Fonda, Vinessa Shaw, Alan Tudyk, Gretchen Mol
Dan Evans (encarnado com espantosa veracidade por Bale, um dos grandes atores da atualidade) é um rancheiro, cheio de dívidas por causa da seca. Ele perdeu uma das pernas, na verdade uma parte dela, quando servia nas tropas do norte e agora tem que lidar com a falta de dinheiro, a pressão pelos pagamentos e o desgosto que a mulher e os filhos no fundo sentem por sua situação paupérrima. Habitando outro mundo, temos Ben Wade (Russel Crowe, que demora um pouquinho a convencer como bandido, mas quando convence, é uma recompensa e tanto ver ele no papel) líder de uma gangue que acaba de assaltar uma diligência. Dan representa a vida pacata e sossegada no oeste, enquanto Ben é o próprio perigo em pessoa, sua chegada em qualquer lugar já é prenúncio de morte. Mesmo com realidades tão distantes, os dois se encontrarão e compartilharão uma jornada que os aproximará ideologicamente, mostrando-nos que ambos são muito parecidos, mesmo que tudo, suas motivações, seu caráter, sejam diferentes.
De saída, o grande acerto de James Mangold foi a escolha do elenco, e não falo só dos protagonistas que dominam o filme completamente, com atuações maravilhosas, mas também dos coadjuvantes que se saem muito bem na missão de ajudar na construção da história. Nesta área, a dos coadjuvantes, destaque todo especial para Ben Foster, que é dono de um personagem tão fascinante quanto os principais (menos profundo, é claro), numa clássica abordagem do convencionalmente chamado “segundo em comando do bando”. No entanto, o grande mérito de Mangold foi ter conseguido oferecer roupagem nova à história, por meio de uma direção muito inspirada, porém sem esquecer de obedecer a certos códigos que regem o gênero, ou seja, ele criou uma obra de linguagem contemporânea, dotada de um espírito clássico.
Os Indomáveis é, portanto, um ótimo filme, grande realização de um diretor que se mostrou apaixonado pelo projeto e que contou com o apoio de alguns profissionais que apostaram na ressurreição daquele que sempre foi um dos tipos de cinema prediletos, não somente dos americanos, mas de cinéfilos no mundo todo. Se não foi tão laureado quanto Os Imperdoáveis ou tão aclamado quanto os de antigamente, Os Indomáveis pode se gabar, sem dúvida alguma, de honrar e dignificar o gênero, oferecendo a esperança de que outros diretores competentes e apaixonados pelos cowbóis e outros seres que habitavam o velho oeste, os tragam do limbo, colocando-os de volta no Olimpo de onde nunca deveriam ter saído.





















Chalaça – A Peça é uma adaptação feita pela Cia. Les Commediens Tropicales, de São Paulo, para o livro Galantes Memórias e Admiráveis Aventuras do Virtuoso Conselheiro Gomes, o Chalaça, de José Roberto Torero. A peça tem por mote a família real brasileira, e/ou portuguesa, ou seja, aquela da nossa pátria mãe. Filha da mãe! Somos portanto, e invariavelmente, uma pátria filha-da-mãe, fato. A encenação fala, mais precisamente de Francisco Gomes da Silva, conhecido como Chalaça, figura interessantíssima de nossa história, chamado de A Sombra do Imperador, famoso também por ter apresentado Domitila, a futura amante de D. Pedro e Marquesa de Santos, ao nobre. Como isto não é uma aula de história (eu nem teria conhecimento para tanto), vamos à peça. A encenação começa com um pandemônio, os personagens correndo de um lado para o outro com suas cadeiras e figurinos ora discretos, ora extravagantes. A correria acaba, somente quando um dos personagens senta no centro do palco, com um microfone em sua frente e começa a falar, tal qual estivesse a dar um depoimento, melhor ainda, como se estivesse sendo interrogado sobre a sordidez que existia nas relações familiares reais e o envolvimento de Chalaça em todas estas. O tom começa mais sério, um pouco didático (natural em se tratando de história), mas, aos poucos, a comédia começa a tomar forma, uma forma inapelável, irresistível. Personagem vai, personagem vem, e numa dança das cadeiras muito bem pensada, acompanhada de palavreado erudito misturado com linguagem popular, vemos um pouquinho do nosso passado como colônia e, depois, como império se mostrando por meio das ações de Chalaça, que não aparece como personagem físico na peça, mas, torna-se tão palpável e rico como nenhum outro encenado. Não tenho aqui a pretensão de fazer um texto crítico (tal qual ocorre no caso da história, não tenho bagagem para isso, não sou um conhecedor profundo de teatro), mas devo dizer que Chalaça – A Peça marcou um dos momentos mais divertidos que já tive no teatro. A comicidade, o ótimo texto e a ousadia da companhia contribuem para que se tenha quase uma hora e meia da melhor e mais divertida aula (no melhor sentido da palavra) de história. Destaque para os momentos que são utilizados como transição, para dar uma revigorada na narrativa. Num destes momentos o joguete que se faz é tão engraçado que, nem a genitália masculina exposta, soa como ofensa, soa sim como limite a que o brasileiro chega para sacanear o próximo. Isso mostra um pouco do povo que fomos naquela época e no qual nos tornamos, ou seja, não mudou muita coisa.


